Sobre Juliette Society e o poder da imaginação



Sou desse tipo de ser escritor que, ao longo do processo de escrita de um determinado livro, não lê nenhum outro do gênero para não se deixar influenciar. E não é que eu leia e de repente quero colocar algo igual no livro, pelo contrário.

Eu leio e começo a ter ideias absurdas que tiram o foco do que originalmente eu tinha vontade de escrever.



Esse é um problema e não sei se acontece com a maioria dos outros autores. Começo a escrever uma história e começo a adicionar muitas ideias nela, muitas que até são desnecessárias ao andamento da coisa toda.

Mas na maioria dos casos, realmente me prendo ao elemento essencial da história. Seu núcleo.

Não é o protagonista, o cenário ou a situação para mim. É a mensagem.

Ontem concluí a leitura de Juliette Society, pois agora estou liberada para ler todos os livros eróticos que não pude ler ao longo da escrita de Clube de Vênus. E não se preocupe porque não estragarei os detalhes do livro da Sasha Grey contando-os aqui. Apenas pensei neste livro como forma de refletir sobre o processo criativo.

Porque sabe, Sasha é uma daquelas pessoas criativas pra caralho. É uma ex-atriz pornô que agora escreve. E faz os dois bem, pelo que deu pra entender.

Sasha escreve um livro que me agradou de um modo geral, embora admito que tenha ficado um pouco desapontada com o final – talvez por faltar aquele foco na mensagem, e ao final temos mensagens distintas ao proposto no início.

Mas o que realmente me impressionou foi o poder da imaginação. Da Sasha, através de sua personagem. Uma estudante de cinema que usa o próprio cinema para nos contar sua história. Acompanhamos tudo como se estivéssemos dentro de sua cabeça. Bem dentro de sua cabeça. Lá no fundo. Lá onde tico e teco se assemelham a Freud e Jung. Batman e Coringa. Hitchcock e Kubrick.

Veja, o livro inteiro é praticamente uma grande narrativa psicológica de uma mulher que está subindo pelas paredes porque quer transar e, nossa, não consegue. E olha que ela tem namorado e ele vive com ela. Daí concluímos que não está fácil pra ninguém.

Mas a viagem física só é fabulosa pela viagem psicológica, onde corpo e alma se completam em busca do entretenimento. E me vejo entretida, porque dou muitas risadas com as viagens feitas por Grey. É o momento onde o poder da imaginação nos mantém vivos para seguir a busca pelo que quer que seja. A personagem de Sasha é assim, se mantém viva pelo que sua imaginação lhe oferece. Uma imaginação nada poética, mas deliciosamente filósofica.

Todos nós somos filósofos quando estamos carentes de algo importante. Seja na solidão, na perda ou na abstinência sexual.

Vejo a personagem de Sasha e enxergo um pouco de mim nela. Às vezes tenho aquelas ideias, mas a face para o mundo nunca deixa transparecer. Fica por trás das cortinas onde tico e teco se transformam, mudam de figurino e cenário.

O que seria de nós, meros mortais amarrados à carne fraca, sem a imaginação? O que seria de nossos corpos sem os deleites do inimaginável? Alguém disse uma vez, “o corpo só é erótico pelos mundos que andam nele”, e é verdade. O amor não resiste a um corpo vazio de fantasias. Por outro lado, nem sempre permitimos aos outros que acessem esses mundos que guardamos dentro de nós mesmos. Talvez não precisemos se conseguirmos traduzi-los para nossas faces mundanas.

Dessa forma, tiro minha própria mensagem da leitura de Juliette Society. O corpo é o veículo de uma alma erótica. E a alma erótica é aquela embebida pelo poder da imaginação. Todos temos um pouco da belle de jour.

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